Talvez não tenhamos noção do quanto termos um nome para darmos a sentimentos, conceitos e processos seja importante. Aquilo que tem um nome passa a ter uma existência para o ser humano quase tão concreta quanto é algo físico. Jung deu o nome de individuação ao processo de se descobrir e ser cada vez mais quem interiormente se é. Jung nasceu com o Sol em Leão, de maneira que entendia intuitivamente a importância do que é assumir um modo de ser na vida, de descobrir e expressar quem se é.
Apesar de o Sol ser um algo extremamente popular na astrologia, pois a partir dele se confeccionam horóscopos e se discute a combinação de signos, também é muito comum que se ouça alguém dizer que não tem as características atribuídas ao seu signo solar. Assim, escutam-se virginianos falarem que não são tão certinhos ou organizados assim, arianos dizerem que não são tão explosivos e librianos que não parecem nem um pouco calmos. Ao que se atribui isto?
O equívoco se origina do fato de a literatura popular de astrologia mostrar o Sol como algo pronto e acabado. Se nada no nosso mapa é pronto e acabado, o que mais está distante de sê-lo é o Sol. Para entender isto, pense no Sol astronomicamente. O Sol é uma estrela, é incandescente. Isto dá a idéia de algo pronto e acabado? Astrologicamente, o rege o signo de Leão, que é um signo que pertence ao Fogo, elemento que não pode ser tocado sem danos, mas apenas sentido por aproximação. Estas características astronômicas e astrológicas falam muito mais do Sol como um potencial (pelo fato de ser uma estrela), como algo a ser alcançado (por reger um signo de Fogo, sendo que este elemento é caracterizado pela infinitude da criatividade) do que como um ponto de repouso.
O símbolo do Sol na astrologia é um ponto com um círculo em volta. Remete a uma ideia de infinito, pois o ponto dentro do círculo pode ser outro círculo em torno de um ponto, e o círculo que vemos talvez seja um ponto de um círculo muito maior que está fora do nosso campo visual. O Sol, portanto, é uma busca. É um erro tentar descrever o Sol como algo já delineado e definitivo. É um engano atribuir a todas as pessoas nascidas no mesmo signo solar características idênticas, como se todos os escorpianos tivessem de ser necessariamente vingativos. Alguns não serão! Ou não do modo esperado.
O Sol, tal como um diamante multifacetado capaz de refletir mil tons de cor e luz, apresenta uma variedade incrível dentro de um mesmo padrão. Assim, podemos dizer que pessoas nascidas sob o mesmo signo solar estão, sim, em uma busca semelhante, mas cada uma segue um caminho, e, porque não dizer, um modo de expressão. Neste caso, por exemplo, você poderá conhecer um ariano extrovertido, manifestativo e outro que lhe pareça calado e fechado. Não tente entender o Sol por fora, e sim, por dentro. Os dois arianos, cada um a seu modo, estão testando (com maior ou menor sucesso) sua coragem, ousadia e capacidade de confiarem em si mesmos. Estão perseguindo a essência (ou semente) de seus Sóis.
Usando a analogia da semente, pode-se pensar que o Sol funcionaria mais ou menos assim: uma semente de caju só poderá ser um cajueiro. Em parte, isto corresponde a verdade. O Sol representa um profundo anseio de exercermos fora o que somos dentro. Todo Sol busca a expansão de si mesmo. Porém, o potencial humano é mais amplo do que o de uma semente de caju. Nós nascemos com certas inclinações dentro de nós que são alimentadas, reforçadas ou alteradas por nossos próprios anseios. O caju só pode ser cajueiro, e só fatores externos poderão impedir isto. O ser humano, não. Fatores externos podem atrapalhar o que desejamos poder ser, mas também podem não atrapalhar em absoluto em alguns casos. Nossa semente de caju pode ser modificada geneticamente por nós mesmos! Somos semente e criadores de nossos potenciais interiores. Desta maneira, pode ocorrer, por exemplo, que uma pessoa desvitalizada interiormente não tenha condições de aproveitar oportunidades externas. Mas também pode acontecer de alguém com forte vontade (um maior contato com o seu Sol) possa conseguir lutar contra condições externas muito difíceis.
A astrologia, que para mim é um saber sagrado, em direta conexão com o divino, pode auxiliar muito para a descoberta do Sol. O primeiro resgate do Sol precisa ser por signo. É necessário sair dos chavões do tipo “só sou um libriano se for bem sucedido em um casamento”. É preciso se compreender o que realmente se estaria buscando, e usar a consciência, que é o estar de fato acordado, para tentar alcançar isto. Faz parte do desenvolvimento do Sol definir o que é importante e não se perder disso. E o que é importante não é o importante para o externo, e sim, para a própria pessoa.
O segundo nível de descoberta do Sol é por casa. A casa em que o Sol está é de relevância crucial para a realização daquele Sol. Um Sol que não realiza a casa em que está fica despersonalizado. E quando se fala não realiza novamente descarte parâmetros externos. Para o Sol, realizar é buscar, e alcançar é consequência de ter buscado. A bem sucedida pessoa com Sol na casa dez não é bem sucedida apenas porque conseguiu obter sinais externos do seu sucesso, mas porque o buscou, porque entendeu a importância que agir no mundo, ter uma profissão e ser reconhecida tinha para ela.
Por último, é necessário desvendar os aspectos que o Sol faz. Eles tanto representam tudo o que vem com o Sol, e precisa ser realizado, como podem simbolizar desafios para o mesmo Sol. Os aspectos não fazem nada sozinhos, são as pessoas que o fazem, mas terá uma conjunção de Saturno ao Sol no mapa de alguém congelado o Sol, impedindo que ele brilhe? Esqueça o juízo de valor sobre conjunção e sobre Saturno. Concentre-se apenas em saber se aquilo foi bem usado ou não, e, se não foi bem usado, como poderia ter sido, e como pode ser resgatado. Ou seja, como deixar que o Sol se expresse em sua plenitude. Que o Sol brilhe. Que nos brilhemos e tenhamos o direito de realizar quem somos e quem desejamos ser. É esta a individuação do qual o leonino solar Jung falava.
3 comentários sobre “Se tenho o mesmo signo que você, por que somos tão diferentes? Entenda melhor esta questão”
Oi, Vanessa! Eu adorei esse texto, esclareceu muito uma dúvida que eu sempre tive em relação ao assunto. Sou de áries com ascendente em leão e nem de longe me sinto como descrevem esses dois signos. Eu sei que vários outros fatores influenciam, mas gostaria muito de saber o que acontece para eu me sentir assim. Seu texto me ajudou muito! Obrigada.
Oi, Vanessa! Gostaria de esclarecer uma dúvida! Se o descreve uma pessoa não é só o signo Solar, depende muito do seu mapa astral que é baseada na hora e na data de seu nascimento, porque duas pessoas que são gêmeas são tão diferentes?
Flávia, eu tenho aqui no site dois artigos sobre gêmeos: gêmeos idênticos e gêmeos astrais. Os segundos são aqueles que nasceram no mesmo dia, hora e local, não se conhecem, mas têm mapas iguais. O fato de não se conhecerem traz mais paralelos nas vidas deles do que gêmeos idênticos, que sentem uma necessidade natural de se diferenciar para marcar sua individualidade. Além disso, uma coisa que muita gente não compreende é que TEMOS um mapa, e não SOMOS o mapa. Quem SOMOS é uma escolha nossa. Se eu sou uma pessoa que busca o aperfeiçoamento e o crescimento interno eu vou usando o meu mapa de uma forma diferente de quem não faz isto, seja por que motivo for.