Não há dúvida de que a astrologia é popular. Está em todas as bancas de jornal. Porém, a astrologia de massa, conhecida do grande público, é totalmente diferente da consulta astrológica, que necessita de hora, data e local de nascimento. Podemos dizer, sem entrar em detalhes, que a astrologia de massa visa produzir entretenimento ou diversão, atenção (“vou ler sobre o meu signo e da pessoa de quem eu gosto”), esperança e consolo. Ela existe para alimentar emocionalmente, para falar com as pessoas, sendo doce, gentil e ajudando com informações genéricas que muitas vezes são úteis. O grande problema é que se pensa que astrologia seja somente isto.
Um estudo personalizado, uma consulta astrológica, tem uma proposta totalmente diferente. Seu objetivo é ajudar individualmente, tentando aumentar o grau de conhecimento a respeito de si mesmo, ainda que isto implique, em alguns momentos, fazer com que o indivíduo entre em contato com conteúdos não resolvidos. Mas não é preciso resolvê-los para se ser mais inteiro, para se avançar? Este artigo pretende apresentar esta astrologia mais profunda, e muito pouco conhecida, e menos ainda utilizada. Quantas pessoas que você conhece que já fizeram uso da astrologia personalizada, ou seja, já fizeram uma consulta astrológica?
A astrologia personalizada levado a um real autoconhecimento
A astrologia é o mais incrível instrumento existente para entrar nas particularidades do que quer que seja, um evento, um país ou uma pessoa. A quantidade de detalhes e de informações que pode ser extraída é assombrosa. Uma série de coisas pode ser deduzida somente a partir de um mapa astral. Só que não tudo. E vamos explicar o porquê.
Um mapa astral tem dois níveis: o celeste e o terrestre. O celeste é o próprio mapa. São as informações que podem ser obtidas somente a partir dele, e que não são poucas. Exemplo: se um cliente nasceu com Saturno na casa sete, que é a casa dos relacionamentos, pode-se saber, com toda a certeza, que esta é a área em que ele mais tem a aprender, pois Saturno significa isto, aprendizado. Pode-se saber disso sem precisar trocar uma única palavra com ele.
Entretanto, há o nível terrestre da informação, que é se descobrir o que o indivíduo fez do seu mapa. Será que o cliente sabe que tem algo a aprender com os relacionamentos? Se sim, quanto ele já aprendeu? Muita ou pouca coisa? Quais são suas dificuldades? Qual seu grau de consciência? Isto o mapa não diz. Tem de ser perguntado ao cliente.
A consulta é uma interação na qual se tenta fazer o cliente ficar consciente do símbolo astrológico que ele tem em seu mapa, da muitas formas como este símbolo se externa. Isto os relatórios prontos da Internet nem sempre podem fazer, a menos que tenham um texto mais profundo e reflexivo. Muitos destes textos terão uma astrologia mais limitada e descritiva, facilmente esquecida. Ocorre que o contato real com a astrologia é vibrante, não é para ser esquecido, pois visa provocar uma reação e ser um ponto de partida para a pessoa pensar.
Em uma consulta astrológica sobre o mapa astral do cliente, pode-se trabalhar em dois pontos principais:
Os fluentes ou as facilidades. O cliente está consciente destes potenciais? Faz uso? Se nasceu, por exemplo, com o Sol na casa nove, está usando-o para realmente se expandir? Entendeu que é isto que ele tem de realizar em sua vida, pois o Sol representa o ponto central do que precisamos concretizar?
Os desafios. Assim como um mapa contém potenciais que podem funcionar de um modo mais fácil (mas que, ainda assim, dependem do que será feito deles), contém, igualmente, desafios. E é o papel do astrólogo é descobrir como o cliente está em relação a eles. Tem ciência destes desafios? Quanto trabalhou neles? Conhece a origem dos mesmos? Entende-os em profundidade? Neste segundo caso, o astrólogo tenta propor formas de se lidar com desafios, e também ouve as próprias idéias do cliente.
Assim, é necessário se entender que na astrologia haverá sempre dois níveis: o celeste, dos potenciais contidos no mapa, e o terrestre, do que fazemos deles. O mapa astral é, também, um ponto de partida. É como se nascêssemos com um mapa e ao longo da vida vamos caminhando em nossa trajetória com ele nas mãos. Qualquer caminho que percorrermos terá a ver com o nosso mapa, mas alguns caminhos serão melhores, mais produtivos, trarão mais alegrias. Como descobri-los? A consulta astrológica sobre o mapa natal tem o propósito de tentar auxiliar nisso. E envolve muita responsabilidade, pois é uma pessoa que está ali, com sentimentos, tentando se descobrir, se desenvolver.
O que é o símbolo astrológico
O astrólogo é um intérprete entre o símbolo e o cliente. Ninguém vai entender como a astrologia funciona sem perceber que o mapa astral é, em suma, um conjunto riquíssimo de símbolos e códigos.
A característica do símbolo é que ele é multifacetado. Para a astrologia, cada símbolo tem inúmeros significados. Vamos dar um exemplo. O símbolo que chamamos de Saturno pode representar:
Edifícios, estruturas.
Construção.
Trabalho.
Dificuldades, bloqueios.
Avanços através de esforços.
Consciência.
Integração à realidade.
Tempo.
Carreira, profissão.
Basta ler a lista de significados para notar como são diferentes entre si, e, ao mesmo tempo, convergentes. Assim, como um astrólogo vai saber, somente ao olhar para o símbolo, se Saturno, no mapa de uma pessoa, representa um bloqueio ou se representa algo em que ela, com bastante esforço, já avançou e construiu? Isto vai ter de ser perguntado ou descoberto na entrevista ou contato que for feito.
Como conhecedor dos múltiplos significados de um símbolo, o astrólogo também tentará transmitir o seu conhecimento ao cliente, para que ele passe a escolher como realizar um potencial expresso no seu mapa. Ele poderá propor, brincando: ‘e então, você quer viver Saturno como dificuldade ou quer crescer alguma coisa neste campo? Tem outras coisas que Saturno significa. Você quer descobri-las? Quer utilizar o seu mapa em um outro nível?’.
O grande esforço do astrólogo (e, acredite, não é pequeno) é o de tentar fazer o cliente ficar ciente do próprio mapa para crescer como pessoa. A maior parte do público pensa que uma consulta astrológica sobre o mapa natal é um astrólogo descrevendo a pessoa pelo seu mapa, falando sem parar. Além de algo enfadonho, a pergunta é: aonde tal procedimento irá chegar? Será útil para o cliente? Provavelmente, não. Por isto, o objetivo de uma consulta é tentar aumentar a consciência do cliente a respeito de si mesmo, das escolhas de vida e, em última instância, do seu próprio papel no mundo, do que ele veio realizar como ser único que é. A verdadeira consulta sobre mapa natal não é descritiva, mas sim, interativa. Isto pode ser feito mesmo um trabalho à distância (como CDs gravados ou relatórios), desde que a proposta seja apresentar o símbolo de uma forma aberta, múltipla e dinâmica, tal qual ele de fato é.
A consulta: um exemplo
Digamos que o astrólogo veja que uma determinada cliente tem Vênus no signo de Áries. Para a astrologia, Vênus colocado em Áries é considerado um posicionamento que envolve alguns desafios, pois o planeta do afeto está em um signo mais agressivo e dinâmico. Como irá se portar ali? Como conciliar as duas qualidades? O astrólogo tentará de descobrir como a cliente está lidando com esta tarefa. Em um dado momento da consulta, a cliente se queixa de não gostar muito do chamado casamento convencional, dizendo:
“Gosto do namoro, da conquista, mas quando ocorre o casamento parece que se perde alguma coisa. Não quero mais casar com ninguém, embora ainda me empolgue bastante e me apaixone com facilidade.”
A cliente está nada mais, nada menos, do que descrevendo uma das possíveis manifestações de Vênus em Áries. É neste ponto que o astrólogo pode ajudá-la a compreender o que significa nascer com Vênus em Áries e como usar melhor este posicionamento.
“Talvez você sinta isto porque nasceu com Vênus no signo de Áries. Para você, o amor tem de se conjugar com independência. Esta é a forma como você precisa viver o amor. Tem de haver carinho, afeto, mas tem de haver duas individualidades e estímulo também. Como você tem conciliado estas necessidades?”
Previsão ou a interação com o seu momento?
A previsão segue a mesma vertente da astrologia voltada para autoconhecimento, ou seja, tenta-se destrinchar as muitas formas como o símbolo pode se manifestar. O astrólogo se torna a ponte entre o celeste e o terrestre, aplicando seu conhecimento teórico às situações concretas que o cliente vive.
No caso da previsão, o foco da mesma é menos na estrutura do indivíduo e mais na tentativa de se entender o momento, ou seja: o que está em jogo agora? Este é um momento de transformação, mudança? O que há para aprender? O que está mais fácil e o que está mais difícil? Que áreas da vida estão se abrindo e que áreas exigem trabalho e paciência? A consulta sobre previsão pode ser inerentemente prática e factual e pode estar interessada no desenvolvimento do indivíduo. Depois do advento da psicologia, ela deixou de ser apenas factual para se concentrar nos significados do que está acontecendo.
Vamos a um exemplo. Urano, na astrologia, tem um efeito de mudança. Ele desestabiliza, chacoalha, mas também renova. Urano no céu está alcançando o grau do Saturno no mapa da pessoa. Saturno rege edificações. É perfeitamente razoável, do ponto de vista do símbolo, dizer que há possibilidade de ele ter, em sua casa, rachaduras. Urano não está mexendo com os edifícios de Saturno? Pois bem, ela poderá, de fato, notar isto. Mas isto é o mais importante? Saturno não rege apenas as estruturas físicas, mas também as estruturas de nossa vida. Quando Urano chega em cima de Saturno, estas estruturas (Saturno), inclusive as profissionais (âmbito regido por Saturno), precisam ser renovadas (Urano), pois do contrário podem desabar. O trabalho do astrólogo é tentar falar sobre isto. Fazer o cliente entender quais são as estruturas da vida dele que precisam ser renovadas. Fazê-lo perceber onde ele mesmo está cansado e deseja desafios e o que ele mesmo acha que tem de ser mudado.
A previsão tem, portanto, quatro objetivos
– Conversar com o cliente sobre coisas que provavelmente já está sentindo. Torná-lo consciente delas.
– Fornecer auxílio prático. Ou seja, é possível dar avisos práticos sobre questões a se prevenir ou a se aproveitar. Não há porque negar este viés prático da astrologia, que pertence a ela milenarmente.
– Ajudar a deslocar, o máximo possível, a posição do cliente de quem apenas sente e fica passivamente parado para quem faz e promove suas escolhas. Se ele ficar parado, que o seja por escolha, e não por simples inércia.
– Fazê-lo pensar sobre sua vida. Isto não é especial? Não valoriza a vida de cada um?
Em momentos particularmente difíceis, a previsão também tem uma função de consolo. Ela explica o porquê da dificuldade do momento, o que está em jogo. Se, por exemplo, Plutão no céu se opôs a Vênus e um amor terminou (o que NÃO necessariamente precisaria acontecer, pois, de acordo com o símbolo de Plutão, este amor também poderia passar por uma profunda reformulação). Serve de consolo saber que isto está ligado a este momento. Auxilia profundamente conhecer os sintomas ou sentimentos que podem ser característicos dele (coisa que a astrologia é capaz de fazer com precisão, porque conhece os efeitos dos planetas), pois isto dá certa legitimidade ao que se está vivendo. E, finalmente, a astrologia é o estudo dos ciclos. Para a astrologia, cada momento é um panorama complexo de ciclos, que estão se iniciando, estão no meio ou no final. É inegável que produz alívio saber que um processo difícil não tardará a terminar, ou que outra coisa nova que possa ajudar poderá começar no ano seguinte.
O papel dos astrólogos e o objetivo das consultas
O papel do astrólogo nada tem a ver com o de quem fica sentado atrás de uma cadeira fazendo descrições sobre o mapa natal do cliente ou falando do que vai acontecer. Isto é muito pouco e limitado, e talvez já tenha sido útil algum dia. Os tempos eram outros, a visão de mundo das pessoas era outra. Não havia tanto livre arbítrio, que, admitamos, tem seus aspectos estressantes tanto quanto tem os maravilhosos. O fato é que estamos em um mundo diferente, em que a liberdade do indivíduo cresceu, solicitando, portanto, também uma astrologia diferente, finamente sintonizada com isto.
Esta astrologia não comporta mais um astrólogo postando-se confortavelmente acima do cliente, como um sacerdote ditando ‘as tendências de Deus’ ou coisa parecida. Esta astrologia requer um astrólogo atualizado, sensível, colocado ao lado do seu cliente, esforçando-se para fazê-lo entender a composição da sua personalidade, a riqueza de sua natureza ou a implicação de um dado momento que ele esteja vivendo.
Esta astrologia dá mais trabalho, porque não é passiva, acomodada. Requer interação, criatividade. Está voltada para tornar as pessoas mais conscientes de si mesmas, do que elas fazem, de como se relacionam. Esta astrologia, infelizmente, ainda é desconhecida, pois a maioria das pessoas tem uma ideia equivocada de que a função da astrologia é só fazer previsões, como se não construíssemos nosso destino passo a passo. Temos um maravilhoso instrumento em mãos ainda pouco empregado, popularizado, que podia ajudar tantas pessoas a se entenderem, se descobrirem, se valorizarem, colocarem seus potenciais positivos mais em uso. Esta astrologia precisa se tornar tão popular quanto as terapias, pois está à disposição do ser humano para melhorar sua vida.
A astrologia é testemunho vivo de que a vida na Terra é mais mágica do que imaginamos. O Céu a nós se revela, e com nossos pequeninos intelectos tentamos captá-lo a fim de tornarmos nossa vida melhor. Que mais de nós possam ter acesso a isto.