“13 Reasons Why”: série escorpiana trata de assuntos do signo

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Produção mexe com insensibilidade diante de temas como morte, abuso, suicídio e solidão

Foto divulgaçãoNetflix

A série “13 Reasons Why” estreou em 31 de março de 2017, e rapidamente alcançou sucesso, sendo a mais comentada, até abril deste ano, no Twitter. O mote dela é explosivo: uma adolescente se suicida e deixa um legado de 13 fitas cassetes em que conta o que a levou cometer o ato. Em cada uma das fitas, aponta alguém que teve algo a ver com sua decisão. “13 Reasons Why” estreou junto com a divulgação de notícias do perigoso “jogo da baleia azul”, em que adolescentes se autoagridem e podem chegar a cometer suicídio. Com este pano de fundo complicado em paralelo na vida real, imediatamente despertou o questionamento do quanto pode ser válido, mas também delicado, tratar de um tema tão difícil mirando em uma faixa etária que também será consumidora do que for veiculado, e que se caracteriza por um momento de transição que a deixa particularmente sugestionável.

Falar dos problemas que assolam milhares de adolescentes ao redor do mundo abre um canal de sensibilidade e solidariedade, propiciando entendimento aos jovens e aos adultos ao redor deles, ou, de alguma forma, o conteúdo pode ser um incentivo à romantização do suicídio para quem já se encontra em uma situação difícil? Não é uma pergunta fácil de responder, pois produtos como a série podem ter variadas implicações.  Mas o que Astrologia teria a dizer sobre a questão por detrás do suicídio da jovem, o bullying?

Atenção: o artigo tem “spoillers”, isto é, revelação de trechos da primeira temporada da série.

Uma série associada ao signo de Escorpião

Anos atrás, não se falava em bullying. Não que ele não existisse, ele sempre existiu em larga escala e em todos os lugares, mas a questão não era tratada e não havia um nome para isto. Todavia, embora hoje haja um nome para esta prática grupal infelizmente tão corriqueira, o problema continua a acontecer e a causar grandes estragos. E é sobre isto que trata a série. Bullying é o grande problema da protagonista, que o enfrenta completamente sozinha, sem dúvida uma das razões do seu colapso.

Assim, “13 Reasons Why” tem um forte viés de Escorpião, pois trata de temas relacionados a este signo: poder, abuso, morte e suicídio. Tem um clima muitas vezes pesado e sombrio, mas também possui outros elementos escorpianos: suspense, enfrentamento, confrontos, verdades vindo à tona, dor.

Além disso, o decorrer da série vai produzindo perguntas de difícil resposta feitas pelos personagens e na mente do espectador. Por que a jovem nunca relatou seus problemas aos pais, que eram tão acessíveis e amorosos com ela? O que a matou? Sua morte poderia ter sido evitada? Houve negligência por parte da escola? O que há para ser feito aos jovens na situação dela? Estes adolescentes estão recebendo alguma ajuda, ou a maioria padece sozinha, como Hanna? A perda de uma vida preciosa faz com que “13 Reasons Why” seja questionadora –  e perturbadora – do início ao fim. Por isto, não está sendo só assistida por adolescentes, mas por uma legião de adultos, e alcançou um sucesso incrível tratando de assuntos profundamente incômodos – e só Escorpião tem esta coragem de meter o dedo na ferida e falar o que é calado.

Júpiter transitando por Libra evidencia desejo de agradar e impactos das relações

A produção da Netflix surge com Júpiter transitando por Libra (setembro de 2016 a outubro de 2017) e com este planeta fazendo contatos desafiadores a Urano e Plutão. Tais aspectos estão por detrás de diversas questões coletivas, como o aumento das divergências entre lideranças e países, o alastramento dos protestos, as legislações em mudança e nem sempre agradando e até um número maior tanto de divórcios como de novas uniões.

Todavia, o tema da série, a morte, estaria mais associado a Escorpião, onde Júpiter irá ingressar em outubro, para ficar um ano. No entanto, se a morte é o desfecho triste de uma situação, no fundo o que a série discute são as relações sociais, algo de Júpiter em Libra, o signo do desejo de agradar e de estar inserido socialmente, e do quanto as relações podem nos impactar, sobretudo na adolescência, em que a dependência da opinião do grupo é enorme.

Na infância, ainda assim não é fácil enfrentar o terrível “bullying”, mas a criança ainda tem mecanismos compensatórios, como a ingenuidade e a recuperação típicas desta fase. Na adolescência, o nível de consciência aumenta, enquanto o indivíduo ainda é muito vulnerável para entender e lidar com situações de perseguição e  exclusão.

Série surge em tempos de radicalismo e intolerância

Vale ressaltar que, além de estar tratando de um tema de Júpiter em Libra, com reverberações do trânsito que ainda virá, de Júpiter em Escorpião (respectivamente, os signos da aceitação e rejeição), outro posicionamento astrológico que influi na obra é o trânsito de Saturno por Sagitário (2015-2017). Este levou a um aumento da intolerância e dos casos de preconceito, assim como de discussões sobre estes assuntos. Basta dizer que, assim que Saturno ingressou em Sagitário, houve o episódio no Jornal Charlie Hedbo, na França. E o isolamento ao qual Hanna acabou submetida só teve um nome: preconceito. É o preconceito que leva a agredir, excluir e isolar.

Clay Jensen, o admirador de Hanna: de Peixes a Áries, da empatia à ação

A estrutura da série faz com que seja narrada pelo personagem Clay Jensen, colega de Hanna e apaixonado por ela, ao mesmo tempo em que são inseridas cenas com a jovem. Muitas vezes, Clay acaba de chegar a um cenário no qual “enxerga” Hanna, com passado e presente o tempo inteiro se intercalando. Hanna viva e Hanna morta falando na fita, e um doloroso muro invisível separando uma coisa da outra.

Clay se torna o narrador e o fio condutor da história, na medida em que vai escutando cada uma das fitas, sempre com receio de ouvir a próxima, além do medo de conhecer sua própria participação, já que é avisado que colaborou para o desfecho da menina. Desta forma, ele vai testemunhando a trajetória da moça piorar até a culminação no trágico final.

Ele é o grande personagem que resgata Hanna de um dos fatores que motivou seu triste ato: a indiferença. Ele mesmo, enquanto Hanna era viva, não a compreendia tão bem. Sentia-se atraído por ela, mas também tinha de lidar com todo o entorno que tornavam o universo da jovem tão complicado.

Do início ao fim da série, ele surge sempre de alguma forma machucado e/ou em recuperação. É uma metáfora para o ferimento relacionado à partida súbita e tão dolorida da jovem. Clay está de luto, muito triste, e, diferente de todo o restante, é o que mais se aproximou de realmente se conectar a Hanna.

Tímido, reservado e sensível, Clay tem muito de Peixes no início da série. Durante muito tempo, sequer consegue admitir a sua ligação com Hanna. Diz que “pouco a conhecia” quando inquirido a respeito da sua ligação com a adolescente, no que poderia ser um defeito pisciano de negação e fuga. Porém, este dizer que “pouco a conhecia” é manter Hanna na periferia da indiferença que colaborou para o desfecho que ela teve. Parece que todo mundo “a conhecia pouco” ou tinha pouco a ver com ela, pois ninguém quer estar conectado a sua morte. No entanto, colegas mantêm um lindo painel com fotos e mensagens carinhosas sobre ela, parecendo tardiamente se importarem, quando esta receptividade teria que ter aparecido com a garota ainda viva.

Na proporção, porém, em que as fitas vão mostrando o difícil destino de sua paixão adolescente, Clay vai passando da empatia e sofrimento para a coragem e enfrentamento, no que poderia uma passagem de Peixes para Áries, que são signos vizinhos na roda zodiacal. Ele ainda tem e terá muito de Peixes, mas vai ficando cada vez mais corajoso e revoltado. Em um dado momento, cessa de mentir para si mesmo e para o mundo que “não a conhecia”, até porque o sofrimento da moça por quem foi apaixonado vai preenchendo todos os seus poros de dor, tanto que não consegue ouvir todas as fitas de uma vez só. Precisa de pausas. Cada fita é como um filme de terror, em que a sequência seguinte poderá ficar pior do que a anterior. Isto mexe profundamente com a sensibilidade já abalada do adolescente.

Quanto mais se conecta com tudo o que Hanna passou, mais insurgente Clay fica e mais acessa a energia de Áries, levando-o a enfrentar o sistema que causou a morte de Hanna. É notável a transformação pela qual o personagem passa, o quanto amadurece ao confrontar e admitir os fatos tão pesados e sombrios que motivaram sua colega de trabalho e escola a se suicidar. De jovem tímido e introvertido, passa a ser capaz de se assumir e falar o que pensa. Se torna mais ele mesmo. Não daria para saber quanto tempo levaria para que ele chegasse a isto, se é que chegaria, sem a morte de Hanna. A morte injusta da linda jovem que mexeu com ele o transforma.

Bullying no Mapa Astral: é possível identificar?

Existe alguma propensão astrológica para o bullying? Na verdade, nada na Astrologia é uma equação matemática, pois fatores astrológicos se mesclam a influências ambientais. Todavia, pode-se imaginar que o Mapa da pessoa que sofre/sofreu/sofrerá bullying tem fatores astrológicos complicadores envolvendo a Casa 3 e/ou o regente natural dela, Mercúrio, que são significadoras da vida escolar. Porém, sobretudo, eu desconfio que o que predomine mesmo sejam posicionamentos fortes de Plutão e do signo e Casa que ele rege, respectivamente, Escorpião e Casa 8: uma Lua/Plutão, Sol/Plutão, um Ascendente em Escorpião, uma Casa 8 destacada.

Isto tudo porque este planeta, signo e Casa tanto regem o poder de magnetizar, inclusive pela sexualidade, que desperta diversas reações, quanto de gerar rejeição. Hanna causou isto: fascínio, atração e rejeição. Alguns tipos de Plutão também seguem o oposto, podendo ser opressores e perseguidores.

Um outro fator que leva pessoas com Plutão/Casa 8/Escorpião realçados poderem ser sujeitas a este tipo de experiência (bem como a outros tipos de abusos), é que uma das funções que estes princípios representam é a de levar a um conhecimento profundo das questões humanas – e isto implica em fazer contato com o pior delas, o submundo que pode ser cruel e sombrio.

Plutão também pode simbolizar o lado cruel coletivo, que é exatamente o que acontece com Hanna e em eventos sociais terríveis, como o Holocausto. É o lixo que as pessoas querem atirar para alguém. “Este é o inimigo, esta é a pessoa errada, temos que combatê-lo, depreciá-lo ou eliminá-lo.”

Depois que a jovem é taxada de uma determinada maneira, estar contra ela e aumentar o preconceito é uma forma de não ter um destino semelhante ao dela, o que é o pavor de qualquer pessoa, já que o isolamento tem um impacto psicológico devastador. Ao mesmo tempo, também significa estar ao lado do mais “forte”, dos bem-sucedidos, dos valorizados, uma forma de proteção.

O bullying tem, portanto, um mecanismo de diminuir o outro para se validar e também para se proteger. Ele se sustenta na indiferença, insensibilidade, intimidação e repetição constante do estímulo negativo, para manter o outro abaixado, enfraquecido ou humilhado. Para que ele represente a escória, o que não se quer, e seja a lata de lixo na qual se vai atirar o pior de si mesmo: desprezo, ódio, indiferença, arrogância, abuso.

Por isto, é tão danoso e destrutivo. Quando começa, as pessoas deixam de ter preocupação com os fatos e com o ser humano, que passa a ser simplesmente taxado de um jeito ou de outro, e sistematicamente rejeitado como se fosse doente, aberrante, contagiado por algo nocivo, anormal. É isto que Hanna sofre.

As consequências do bullying sobre as vítimas

A exclusão social tem um peso enorme para seres sociais que somos. As impressões que um evento deste porte provoca na vítima podem ser extremamente danosas para a autoestima e plano emocional, principalmente quanto mais intenso, prematuro e prolongado for. A vítima introjeta sentimentos de baixa estima, inadequação, falta de merecimento, estranhamento de si mesma, insegurança, vergonha e medo. Pode-se levar anos para limpar efeitos de um evento assim (e de outros tipos de abusos), que trazem a sensação subjacente de não ser apreciado, de não se poder mostrar como se é ou de ser espontâneo. A espontaneidade é roubada ao se dizer que o outro é simplesmente mau, não tem valor ou é errado. Isto pode ficar gravado no psiquismo de muitas maneiras e levar muito tempo para os rastros desaparecerem, com a vítima ficando tendente a atrair situações semelhantes.

O subproduto do bullying é o que Hanna vive: ela é invisível, não importante, pessoa de segunda categoria. Ela sofreu bullying por algo que sequer fez ou era, o que, aliás, é muito comum. Este tipo de agressão não precisa se fundamentar na verdade, mas, sim, em uma fantasia negativa, que vai grudar firmemente na pessoa como uma segunda pele.

Algumas pessoas que sofrem bullying desenvolvem uma desconfiança do ser humano e do social e podem passar um tempo revoltadas e agressivas. A raiva do abusado pode sair em algum momento, não raro em processos de autossabotagem, algo como “vocês não me aceitaram, eu agora não aceito vocês”. Isto pode emergir em uma situação com alguma figura de autoridade ou um contexto social em que possa haver prejuízo para a pessoa. O bullying é humilhante e, não raro, se torna um segredo. Hanna possivelmente não conta a seus pais o que está passando porque já está contaminada por toda a atmosfera. E, talvez, em algum lugar, ela queira paz, normalidade e estar longe do inferno diário do isolamento ou de alguma agressão que pode partir de algum lugar ou pessoa. Ou simplesmente porque acha que seus pais não podem fazer nada   contra aquela roda viva da qual não consegue sair.

O bullying, se não tratado a tempo, como no caso de Hanna, também produz fortes traços de solidão, um outro tema escorpiano. A vítima se torna um sobrevivente. Ela é forte porque é preciso ser muito forte para suportar a dor constante da exclusão e de contínuas violências, como se fosse um ímã de coisas ruins. E Hanna aprende algo doloroso: que está só. Ninguém vê, ajuda, estende a mão. E a vida de quem sofre isto em algum momento se torna apenas suportar, seguir adiante, com pouca vontade. Fica claro, no andamento da série, o progressivo esgotamento vital e emocional da protagonista.

Quando procura o conselheiro da escola, ela está assim. Conta a ele um episódio gravíssimo, que ele questiona, o que para ela soa mais uma vez como uma não validação. Ela dá sinais claros de que está alienada da vida e de si mesma (“eu já não estou me importando com nada” é uma de suas falas) e ele é incapaz de perceber que ela está chegando ao limite, até porque Hanna não chora, não faz drama. Não é tímida, não é travada, não tem cara de vítima. As notas dela não caem. É, ironicamente, a fragilidade da força do sobrevivente, de quem já se alienou profundamente de si mesmo por conta de sua imagem constantemente distorcida, que a afunda. Assim, ele não vê que a jovem que parece normal e bem está, no fundo, pedindo uma última chance. Que alguém a veja e a proteja, ou faça justiça. Ao invés disso, ele só oferece mais perguntas, distância e reticências. Até que ela passa a não acreditar mais que haja mais solução para sua questão.

Sua descrença na sensibilidade do ser humano é bem evidente no tom irônico característico das primeiras fitas quando pede para “pegarem um lanche” enquanto ela vai narrar por que se matou, como se isto fosse um entretenimento para assistir com um pacote de pipocas na mão.

“Oi, é a Hannah. Hannah Baker. Isso mesmo. Não ajuste seu… o que quer que esteja usando para ouvir isso. Sou eu, ao vivo e em estéreo. Sem promessa de retorno, sem bis, e, desta vez, sem atender a pedidos. Pegue um lanche. Acomode-se. Porque vou contar a história da minha vida. Mais especificamente por que minha vida terminou. Se você está ouvindo esta fita… você é um dos porquês”.

Nestes áudios, pela primeira vez ela “fala”, desabafa o que guardou apenas para si mesma por tanto tempo. É a sua própria justiça à custa da sua vida. E é trágico perceber que a jovem inteligente, sensível e articulada que narra aquelas fitas partiu sem que houvesse, como ela mesma disse, um pedido de bis, um retorno, uma salvação.

O preconceito como forma de agressão

Antigamente, havia uma música que tinha uma estrofe assim.

“Joga pedra na Geni!

Joga bosta na Geni!

Ela é feita pra apanhar!

Ela é boa de cuspir!

Ela dá pra qualquer um!

Maldita Geni!”

Cantava-se isto com naturalidade em uma época em que nem existia a palavra “bullying”. Esta, aliás, é uma agressão gratuita, é uma forma de ganhar poder, de sugar e se sobrepor à custa da humilhação do outro. Isto é muito evidente no grupo que pratica isto com Hanna. Estão todos, antes do surgimento das fitas, sempre muito sorridentes, extrovertidos, brilhantes. As fachadas só começam a cair à medida em que Clay começa a demonstrar que talvez queira divulgar o conteúdo das fitas para o mundo. Aí os jovens se sentem expostos e com medo, tendo de confrontar com o que, gota a gota, acabaram coletivamente causando como grupo, seja por grosseria e abuso explícito, irresponsabilidade ou grandes doses de egoísmo.

A música da Geni é o processo pelo qual passa Hanna. É como se tivesse sido colocada uma etiqueta nela de “pouco valor, pode chutar”. Neste tempo em que as agressões vão crescendo, Hanna faz alguns amigos por pouco tempo, que, entretanto, conhecem sua vulnerabilidade e, por isto, estão prontos para partirem e não se justificarem. Eles também têm seu sistema de apoio, amigos e família, e o que Hanna tem são pais em crise financeira tocando um pequeno negócio na cidade e com muito medo de serem engolidos por uma empresa muito maior e mais forte do que a deles. A proteção de Hanna é sempre muito pequena, até seus pais estão fragilizados, ao contrário do personagem que é o maior abusador da série, que é o oposto disso: é rico, tem as “costas quentes”, está sempre cercado de amigos e se sente com carta branca para fazer o que quiser.

Ele não é melhor do que Hanna, pelo contrário. Sua noção de direito inato a tudo faz com que cometa diversos abusos, seja com amigos e, principalmente, com as mulheres. Enquanto isto, Hanna é justa, honesta, sensível e está sempre sendo preterida, rejeitada, distorcida e abandonada. As inversões sociais que muitas vezes ocorrem! É comum pessoas abusivas e/ou mentirosas, mas que gozam de poder e prestígio, estejam em alta conta e sejam de alguma forma perdoadas, enaltecidas ou justificadas.

Hanna: a moça com excesso do planeta Netuno

Quando eu soube que foi feita uma série sobre uma jovem que se suicida, eu fiz uma imagem mental rápida e imediata de quem seria a protagonista morta. Imaginei uma jovem frágil, seriamente deprimida e muito infeliz. Hanna era exatamente o oposto disso no início da série. Tinha humor, vitalidade, brilho e espontaneidade. Mas teve o azar em ter sofrido um episódio inicial de abuso que levou a outros.

Há, porém, um traço na jovem que infelizmente a expõe mais aos abusos. Ela é que se chama de um tipo “netuniano”, tendo possivelmente este planeta em destaque (descubra aqui se você é uma pessoa netuniana). Os tipos netunianos podem ser caracterizados por excesso de empatia e humanidade. Isto mesmo, excesso, porque estão sempre dispostos a entenderem, perdoarem, ajudarem. Agora, imagine isto em um contexto com muitas pessoas abusivas e/ou egoístas, o quanto pode ser problemática esta abertura e ingenuidade.

Hanna teria todos os motivos para ser rancorosa. Amigos a traíram, abandonaram e a deixaram sozinha em situações difíceis. No início da série, seu tom é mais irônico e incisivo nas fitas, quase como se ela disse “bem, chegou a vez de vocês sofrerem um pouco o que eu vivi”, mas este tom vai sumindo e se esvaziando com o passar do tempo e o peso da sua tristeza. A princípio, pensa-se, portanto, que Hanna se matou principalmente para se vingar e apontar culpados, no que seria uma ligação com Plutão/Escorpião. Ao chegar ao fim da série, descobre-se, porém, que sua principal motivação era não mais sofrer, ou seja, Netuno/Peixes.

A moça está sempre disponível para perdoar e ajudar, em contraste total com a maioria dos seus amigos, que pensam sempre primeiro neles mesmos, um traço que também pode ser acentuado na adolescência. Esta abertura faz com que Hanna se exponha a diversas situações em que acaba se envolvendo em excesso e se permitindo ser machucada ou se arriscando a perigos e confusões que só agravam o seu problema.

Esta ingenuidade também podes ser típica da inexperiência da juventude, mas parece ser um traço de Hanna. Ela não pensa em perigos e não evita pessoas e grupos que a magoaram. Ela quase nunca pensa somente em si mesma, como os outros fazem, apresentando uma maturidade emocional bem acima dos outros, que acaba sendo seu calcanhar de Aquiles.  Eis porque escorpianos/plutonianos com o tempo se tornam mais desconfiados e fechados (o que não é o caso de Hanna): eles sabem o que o ser humano pode aprontar e que nem sempre é o que parece ser.

Em um certo momento, ela tenta começar uma “nova vida”, com um novo corte de cabelo, mas logo percebe que é praticamente impossível se renovar no mesmo ambiente viciado que a taxa de forma tão dura. Este é também um dos ônus do bullying: o quanto é difícil reverter um quadro que já tomou conta.

Hanna também tem muito azar em não encontrar praticamente ninguém confiável e com a mesma retidão de caráter que ela tem. E, mesmo que encontrasse, possivelmente a pessoa sentiria a sua vulnerabilidade e poderia ser difícil não explorar isto um pouco em algum momento: “eu lhe dei proteção; para você, que é um fruto podre”. É a tentação de ser mau ou um pouco abusivo quando se percebe ter mais poder, um outro problema plutoniano/escorpiano, que se evidencia quando as pessoas podem ter mais poder e dinheiro. Muitas em situações assim mudam, se tornando abusivas, arrogantes ou mimadas. Não é fácil lidar com o poder sem que ele suba à cabeça.

Foto divulgação Netflix

Falta de limites e arrogância mostradas na série simbolizam mau uso de Sagitário

O bullying é o subproduto da sociedade que temos. Ele está fundamentado na ausência de valores que seriam considerados humanistas, como tolerância, respeito, sensibilidade, diálogo. Isto cria uma espécie de direito coletivo de taxar, humilhar, julgar e agredir.

Eu agrido porque…

… você é atraente demais.

… sua aparência/etnia/orientação sexual me incomoda.

…isto me coloca em uma redoma de “forte”, melhor, intimida, me faz ter poder.

O bullying se serve de todos os preconceitos sociais entranhados contra negros, judeus, mulheres, homossexuais, para perpetuar atos hediondos. A série, inclusive, trata das muitas variantes do bullying, como a divulgação de fotos comprometedoras, pichação de dizeres hostis em paredes ou achar que pode assediar a outra pessoa porque ela é “de segunda categoria”. O mundo virtual, por sua vez, expandiu o bullying exponencialmente, que antes ficava restrito somente à escola, pois ele pode vazar para as redes sociais e utilizá-las para perpetuar violências.

Neste sentido, há nesta prática um mau uso de Sagitário, por onde transita agora Saturno, que é a falta de limites, a arrogância, a pressuposição de que se pode fazer tudo. O contexto em grupo também pode levar um indivíduo a fazer coisas que talvez não fizesse sozinho, como participar de um estupro coletivo sob o efeito de drogas e bebidas. “Todos fizeram isto, eu não comecei e fui só mais um”. As pessoas perdem a empatia, até porque proteger a pessoa do bullying muitas vezes é temerário.

Bullying é uma das principais causas de morte em jovens

 Apesar de ser tão comum em escolas de todo o mundo, é de se perguntar o quanto é combatido ou, pelo contrário, ignorado. Uma das maneiras de evitá-lo seria tentando ensinar aos jovens as noções de igualdade entre os seres humanos e o quanto é abominável agredir alguém gratuitamente só porque não se gosta da pessoa. É evidente, todavia, que muitos jovens já vêm de ambientes que estimulam o comportamento de agressores. Bem como é mais comum que a vítima de bullying prolongado também possa provir de um núcleo familiar com alguma fragilidade, em que já sofrem abusos em casa, com pais ausentes e/ou agressivos.

Nada obstante, o bullying também ocorre com crianças e jovens que não provêm de ambientes assim. Pode acontecer “do nada”, com qualquer um, como foi o caso de Hanna. Os pais ficam muito angustiados quando descobrem que os filhos estão passando por este tipo de situação e podem atuar para reverter o quadro, seja pedindo por uma intervenção da escola, dando suporte ao filho para lidar com a situação ou tomando a providência de retirá-lo do local onde está havendo agressão. Porém, como Hanna, muitos jovens não contam aos pais o que se passa. Em geral, isto só ocorre em vínculos em que há grande intimidade.

“13 Reasons Why” toca em temas difíceis, além de ser bem feita e sensível, e por isto chamou tanto a atenção. Nunca uma série ou filme falou de um(a) adolescente suicida. No entanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é a segunda maior causa de mortes entre os jovens, sendo o bullying um dos principais motivos. Além disso, somente nos Estados Unidos, cerca de 160 mil alunos deixam de ir para a escola diariamente por conta da questão, que é ainda é considerada tabu, com poucos lugares e mecanismos para se buscar ajuda.

A quem recorrer quando boa parte da escola parece detestar e/ou rejeitar um jovem ou criança? E o quão as escolas estão preparadas – e interessadas – em prestar a atenção nas relações entre os alunos, e não só em matérias, faturamento, provas, etc?  Ainda temos muito a evoluir e, por isto, no meu entender, “13 Reasons Why” consegue sacudir a insensibilidade social de uma maneira muito contundente – e escorpiana. Este, afinal, é o signo para mostrar o que não está bom, pois só assim se muda, nem que com muita lentidão.

Artigo escrito em maio/2017.

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